sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Cristianismo segundo Bono Vox


Publico abaixo a transcrição de uma entrevista de Bono Vox a Billy Hybels. Bono teve uma trajetória interessante, de evangélico convicto a cristão moderado, numa Irlanda pautada pelo conflito entre protestantes e católicos. Achei interessante propagar essa mensagem.

"Eu nunca tive problemas com Cristo, mas os cristãos sempre me deram dor de cabeça. E eu costumava evita-los se pudesse. Eu sempre os achei completamente desinteressados culturalmente, politicamente. Achava muito difícil ficar à vontade com eles. Eles pareciam tão estranhos para mim, e estou certo de que eu era estranho para eles.
E apesar de tudo isso eu encontrei algumas pessoas na escola que conheciam as Escrituras. Foi um momento bom, quando algumas pessoas se interessaram muito pela igreja primitiva e a possibilidade de imitá-la.




Mas os cristãos podem ser muito críticos, e, particularmente quanto à aparência das pessoas ou o modo como tocam a vida. Eles têm a tendência de julgar as pessoas por seus problemas superficiais. Imoralidade sexual, essas coisas, são a preocupação histórica da igreja, enquanto que a avareza política ou coisas assim nunca são mencionadas.
Estou bem certo de que o universo opera pelas leis do “karma” e que todas as leis físicas mostram que aquilo que você semeia é aquilo que você colhe. E aí a história da Graça entra em cena, que é de fato a história de Cristo e que vira essa visão do universo de cabeça para baixo.
Ela é completamente contra-intuitiva. Quero dizer, é muito difícil para os seres humanos entenderem a Graça. Podemos entender a propiciação, vingança, justiça… Tudo isso pode ser compreendido, mas não entendemos a Graça muito bem.
Estou muito mais interessado na Graça porque dependo dela, preciso dela desesperadamente. Se eu viver por meio do “karma”, estou com grandes problemas.
Jesus foi como Charles Manson, um maluco total, ou, em minha opinião, foi quem ele disse que era [filho de Deus]. E estamos diante de uma escolha muito difícil.
Porque esse homem foi para cruz dizendo que era aquele que havia sido anunciado e que era Deus encarnado e que Deus amou o mundo tanto que ele tentou se explicar ao mundo tornando-se um de nós."



"Evangélico": outrora orgulho, hoje vergonha


Segundo o IBGE, os evangélicos passaram de 15% para 22% da população brasileira em dez anos. Um crescimento de 64% no valor absoluto. Foram milhões que encheram as fileiras das igrejas. Dezesseis milhões, especificamente. De acordo com estes dados, as igrejas pentecostais continuam em expansão plena, já dentre as igrejas tradicionais, os batistas seguiram esse mesmo ritmo exponencial. Aumentou ainda o número de evangélicos independentes. Em alguns municípios, o número de evangélicos já ultrapassa o de católicos, como é o caso da região metropolitana do Rio. Na minha própria cidade, cerca de 4 em cada 10 habitantes é evangélico, fenômeno observado em muitos municípios fluminenses. É um grupo que se expande com um poder político assustador! Uma gama tão grande e difusa de pensamentos, que fica impossível fugir da pergunta: o que define o termo evangélico?
Bom, o movimento evangélico tem suas origens nos Estados Unidos, e pode ser considerado o braço mais forte do protestantismo. Não é uma denominação, nem uma igreja, é antes, uma corrente de pensamento, que enfatiza:

1 – A experiência pessoal
2 – Adoção da Bíblia como única base de fé e prática

Foi a partir desses conceitos que o metodismo britânico e o pietismo(luteranismo) germânico expandiram sua influência sobre outras denominações, formando a base do evangelicalismo que se consolida a partir do século XVIII, espalhando-se da Nova Inglaterra (EUA) e da própria Inglaterra, para o mundo. Hoje, os países mais evangélicos são os EUA, o Brasil, o Reino Unido, a Nigéria e a Coréia do Sul. Pode-se ainda citar a Alemanha e toda a Escandinávia, de maioria luterana.
É interessante fazer essa busca histórico-geográfica, mas quando penso na definição e na carreira histórica,  fico na dúvida se o termo evangélico usado hoje, pelo menos no Brasil, ou mudou sua definição, ou está fora de moda. Porque as diferenças são palpáveis:

     
(John Wesley, fundador do metodismo, e Martin Luthe King, pastor batista, o primeiro dedicado intensamente a obras de caridade, o segundo, ativista social pelos direitos dos negros americanos)

Evangélicos inicialmente eram um grupo que valorizava a democracia e o sacerdócio universal dos crentes. Hoje, muitas vezes parece que em algumas igrejas(que infelizmente estão em alta na mídia), ser evangélico significa ser massa de manobra do líder. Um investimento de alguém muito esperto, que vê em cada fiel uma renda fixa mensal.
Evangélicos inicialmente lutavam pelos direitos humanos. As igrejas eram centro de discussão política pelos direitos dos negros, por exemplo. Poucos sabem disso na América Latina católica, mas foi nas igrejas evangélicas americanas que o movimento abolicionista ganhou um dos seus maiores aliados. Todavia, os evangélicos de hoje discriminam o diferente, o que não concorda com sua visão de mundo, seja judeu, mulçumano, ateu, homossexual, espírita, católico, feminista, umbandista e a lista segue extensa.
Os evangélicos inicialmente, segundo o próprio Weber, quando discursando sobre a ascesse intra-mundana, eram extremamente contidos quanto ao consumo. Trabalhavam arduamente, e ao invés de comprarem os bens de consumo de última geração e colocarem bem grande em suas posses dizeres de “foi Deus quem me deu”, investiam no cuidado dos pobres, como um John Wesley numa Inglaterra sofrida do século XVIII, que junto com os metodistas, seus seguidores, doutrinou que a igreja deve preocupar-se com o ser humano de forma integral; não só com o bem-estar espiritual, mas também com o bem-estar físico, emocional, material, dando especial atenção aos necessitados e marginalizados sociais. Contudo, os evangélicos do mundo moderno, hipnotizados pela teologia da prosperidade, trocaram a esperança de uma vida eterna vindoura pela volatilidade de uma vida próspera temporal. Esqueceram-se que o ensinamento verdadeiro de Cristo é refletido quando se abre mão do carro do ano para investir no cuidado dos que sofrem. (Lógico que, porém, cada caso é um caso)

               

(Edir Macedo e Valdomiro Santiago: arrecadadores de milhões "vendendo" para pessoas emocionalmente afligidas "milagres" e "libertação")

Dizem que só os recursos dos evangélicos do Brasil seriam suficientes para acabar com toda fome do mundo. Não sei se isso é verdade, mas se for, é porque alguma coisa está muito errada. E é por tal tipo de erro que muitas vezes me dá nojo de ter que carregar esse rótulo ridicularizado, “evangélico”. Sou cristão, sou protestante, sou batista, com muito orgulho da minha igreja, que ainda com todos os problemas que tenha, procura manter os valores democráticos congregacionais da decisão tomada pelo voto majoritário dos fieis. Mas não peça pra me definir como evangélico, não como o evangélico dos tempos modernos, egoísta, orgulhoso, controlado, apático, conformado com ordens absurdas, temporal, levado pra lá e pra cá por quem possa oferecer a oração mais forte, o “milagre” mais rápido. Estes são aqueles que ainda precisam entender as palavras de Cristo: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, de toda ignorância... Quem sabe quando isso acontecer, eu não tenha mais vergonha do estigma... evangélico. Até lá, prefiro me considerar  um simples observador externo a este grupo. E quando ouço críticas numa roda de pessoas sensatas, continuarei a definir "eles", e não "nós". Pelo menos por enquanto.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Em Letras Vermelhas


Eu sempre quis que o meu blog representasse a essência daquilo que eu sou. Sempre quis um canal onde pudesse deixar fluir todos os milhares de pensamentos que borbulham na minha mente. E acho que nunca houve momento tão oportuno.
Minhas origens são inegáveis: eu venho do Cristianismo Protestante extremo, capitalista, a pior evolução da ética do trabalho aliada à religião, muito maior do que aquilo Max Weber verificou em sua obra. Obediência e trabalho duro foram a marca dessa fase da minha vida. Toda minha determinação vem daí. Passar em um vestibular difícil mesmo sem a chance de fazer um pré veio daí. Passar em matérias apertadas de Cálculo e Física, mesmo sendo minhas grandes áreas de dificuldade, também veio daí; uma determinação louca para virar noites a finco estudando. Conseguir uma bolsa pra estudar nos EUA, aprender inglês, espanhol, chinês, o instinto de negociar, de vender, de conseguir. Veio tudo daí.  Mas o paradoxo tão incrível é que estas mesmas origens também passam pelo Cristianismo democrático da compaixão, o Cristianismo social, que sai pelas madrugadas distribuindo sopas aos mendigos, e que vai a comunidades carentes na tentativa de oferecer algum tipo de esperança a crianças que estão tendo sua esperança roubada, o Cristianismo que, escondido dos pais, fazia doações a instituições de caridade. Uma dicotomia que muitas vezes entrava em conflito, mas que enfim, aprendeu a sinergia de se combinar o melhor dos opostos.
(Não que eu acredite no que diz a imagem, mas ela faz a gente pensar)

Letras vermelhas são uma versão bíblica impressa, em que as palavras de Cristo são destacadas em vermelho. Palavras como “ame o próximo como a si mesmo”, e “não retribuirás mal com mal”, são enfatizadas para que o principal do Cristianismo seja lembrado. Letras vermelhas é ainda um movimento de cristãos progressistas nos EUA, que acreditam que a igreja precisa voltar a estar com os pobres, como dizia Madre Tereza. Letras vermelhas têm também a cor do movimento socialista, minha recém-descoberta paixão. Letras vermelhas são aquelas escritas com o sangue, com a vida. Vida que estou disposto, com muito trabalho duro, a entregar por uma causa. Letras são o registro da história, vermelho é a cor que representa o amor: é uma história escrita com amor. Enfim, letras vermelhas é o lugar em que vou tentar colocar o melhor de todos os mundos que conheço: da direita e da esquerda, do sagrado e do profano, da paz e da guerra, da academia e da sabedoria popular. Tudo no intuito mais sincero e verdadeiro de fazer do mundo um lugar melhor.
Enfim, em letras vermelhas, eu tento ajudar a escrever o futuro. Um futuro menos: menos egoísta, menos desigual, menos injusto, menos doloroso, menos violento, menos individualista, menos consumista, menos preconceituoso, menos separatista, menos racista. E um futuro mais: mais feliz, mais amável, mais unido, mais companheiro, mais esperançoso, mais pacífico, mais compreensivo. Um futuro que vejo nas palavras de Madre Tereza, Martin Lutherking, Gandhi e, principalmente, de Cristo. Que Deus me dê a paz e a sabedoria necessários para tal.